segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Duplo silencio


Dois amigos cultivavam o mesmo campo de trigo, trabalhando arduamente a terra
com amor e dedicação, numa luta estafante,às vezes inglória,à espera de um resultado compensador.
Passam-se anos de pouco ou nenhum retorno.
Até que um dia, chegou a grande colheita.
Perfeita, abundante,magnífica, satisfazendo os dois agricultores que a repartiram igualmente, eufóricos.
Cada um seguiu o seu rumo.
À noite, já no leito, cansado da brava lida daqueles últimos dias, um deles pensou:
Eu sou casado, tenho filhos fortes e bons, uma companheira fiel e cúmplice.
Eles me ajudarão no fim da minha vida.
O meu amigo é sozinho, não se casou, nunca terá um braço forte a apoiá-lo.
Com certeza, vai precisar muito mais do dinheiro da colheita do que eu.
Levantou-se silencioso para não acordar ninguém, colocou metade dos sacos
de trigo recolhidos na carroça e saiu.
Ao mesmo tempo,em sua casa,o outro não conciliava o sono, questionando:
Para que preciso de tanto dinheiro se não tenho ninguém para sustentar,já estou idoso para ter filhos e não penso mais em me casar.

As minhas necessidades são muito menores do que as do meu sócio,com uma
família numerosa para manter.
Não teve dúvidas, pulou da cama, encheu a sua carroça com a metade do produto da boa terra e saiu pela madrugada fria, dirigindo-se à casa do outro.
O entusiasmo era tanto que não dava para esperar o amanhecer.
Na estrada escura e nebulosa daquela noite de inverno, os dois amigos encontraram-se frente a frente.
Olharam-se espantados.
Mas não foram necessárias as palavras para que entendessem a mútua intenção.
Amigo é aquele que no seu silêncio escuta o silêncio do outro.

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